Poucos designers de jogos possuem um entendimento elegante da implementação do raciocínio lógico em seus títulos. Muito do brilhantismo do design lógico parte do princípio do conceito, através do mesmo que ocorre a construção de um design de jogo capaz de explorar a sensação de raciocínio daquele que joga. Azul é desses jogos cujo design impressiona. De gênero estratégico abstrato, o jogo se embasa em azulejos para expor ao jogador como sua mecânica brilha.
Azul à primeira vista é colorido e abstrato, aos olhos chega a ser até confuso, porém é só uma questão de contato para entender como o jogo funciona. Falar de Azul é falar de suas mecânicas, é um jogo centrado nelas, sem relacionamento com sua temática. O objetivo do jogo é simples e bem comum: faça a maior quantidade de pontos e vença. A sacada está justamente na forma que você consegue atrair os pontos para si. Uma partida de Azul acontece em fases; três para ser mais exato: Oferta da fábrica, Revestimento de parede e Preparação para a próxima rodada.
O jogo funciona da seguinte forma: cada jogador possui um tabuleiro individual, e através deste tabuleiro boa parte do conceito do jogo é apresentado. É neste tabuleiro que você organiza suas peças de azulejo e marca sua pontuação. Além do tabuleiro individual de cada jogador, há os expositores de fábrica, responsáveis por abrigar azulejos ofertados.
Em Azul o jogador pontua através da alocação de azulejos, você coleta todos os azulejos de uma cor de sua escolha de qualquer expositor de fábrica (fase: Oferta de fábrica), aloca tais azulejos em sua fileira de modelo e basicamente conclui seu turno. O ciclo se repete entre você e os demais jogadores até que todos os azulejos dos expositores se esgotem. Os azulejos enfileirados em cores escolhidas por você serão fundamentais para a construção da sua parede, um espaço para você alocar seus azulejos (fase: Revestimento de parede) de acordo com as coordenadas estabelecidas nas regras do tabuleiro individual em jogo.
Imagine cinco azulejos distintos organizados horizontalmente e verticalmente de uma forma que cada fileira seja diferente da outra, seja ela horizontal ou vertical. Um azulejo de cada fileira de modelo das cinco disponíveis será direcionado para um espaço sem azulejo da sua parede. Através das partidas do jogo, que seriam repetições das três fases descritas inicialmente, sua parede ganhará forma, e é nessa “construção” da parede que o design lógico de Azul é colocado à prova.
O design do jogo explora sua percepção de relacionamento visual através de conexões entre os azulejos. A forma representativa dessas conexões ocorre quando os azulejos se conectam horizontalmente e verticalmente. As pontuações do jogo se baseiam justamente nesse conceito, então ao conectar azulejos você pontua por conexões adjacentes ao último colocado na sua parede.
Ao jogar pela primeira vez minha cabeça teve um embaraço com desembaraço; em tradução pessoal seria mais ou menos o mesmo que dizer: não faz sentido algum, mas é tão simples e lógico. Azul provoca seu raciocínio lógico de um jeito tão particular, em mim ele simplesmente explora minha necessidade entrelaçada ao toc de montar combos verticais à passos curtos. Talvez em você explore sua percepção matemática da coisa, entende? A lógica do jogo é simples e clara, mas o nó dado no seu cérebro tem a figura do seu raciocínio.
Azul foi lançado há um tempinho, mas só recentemente coloquei as mãos em uma cópia própria. Além do design de jogo impecável, visualmente e materialmente… UAU! Que jogão bem produzido… É de encher os olhos mesmo, e a sensação tátil é uma delicinha. Quando resolvi enfim comprar Azul, não sabia muito sobre o jogo além do básico: jogo premiado e aclamado pela crítica. Queria um jogo que rodasse bem em qualquer quantidade de jogadores, especialmente entre dois jogadores, então comprei para testar com a minha parceira. A gente leva tão a sério cada partida de Azul que a nossa comunicação, quase sempre tão fervorosa, fica numa quietude só. Imagina uma geminiana calada, claramente o negócio ficou sério.
Azul é de um cara cabeça chamado Michael Kiesling e foi trazido ao Brasil pela Galápagos Jogos. Se você quer um jogo de tabuleiro estratégico que sabe bem como explorar seu raciocínio lógico sem confundir sua cabeça com complexidades desconexas, você precisa de Azul.
Fonte: pecaempilha.com.br/azul-opiniao