Gatilhos de Nostalgia— O Bom do Videogame

Cópia cedida para review. Obrigado editora e autores pela confiança.

Já começo com polêmica:

Tenho alto preconceito com produção nacional de jogos

Ali pelos anos de 2015–2018 (quando entrei no hobby), muito jogos nacionais eram feitos na raça, no facão, mas com amor pelos designers-entusiastas. Eu era só um cliente inocente que buscava um produto redondinho, similar a aqueles que já havia jogado (com produção chinesa). Em vez disso, encontrava apenas diamantes não lapidados com plástico torto ou acrílico mal cortado no lugar de tokens de madeirinha, cartas feitas com papel plastificado e mal centralizadas, manuais escritos as pressas e sem revisão, caixas em formatos fora de padrão…

Vamos conferir se a frustração se mantém ou ficou mais amena com O Bom do Videogame.

Nota do isR34L: Meu maior preconceito com jogo nacional, são os famosos “jogos piada”. Capa com piadinha, coisa envolvendo meme. Parece bacana no momento 0, mas piada enjoa rápido. Querendo ou não, é um dos problemas de Munchkin, que é uma boa piada para os RPGístas, mas como jogo cansa muito rápido.

O Bom do Boardgame

  • Produção: a produção China-Brasil deu bom! Cartas com 3 tamanhos diferentes e linen finish: joguei sem sleeves e estão intactas, embaralham perfeito. Papelão não enverga, rígido e não arranha ao misturar dentro da sacola. Manual de ótima qualidade e cabe certinho dentro da caixa. Caixa padrão, robusta de boa gramatura com vernizinho localizado e tudo, lustrosa. Madeirinhas bem pintada, com peso e qualidade. Menos um preconceito.

  • Manual: assustou no início pela quantidade de páginas, e como eu não sabia NADA sobre as mecânicas, achei que seria um super heavy euro. Ele tem bastante detalhes, dicas e exemplos, principalmente da mecânica de jogar/zerar, e deixou ZERO dúvidas! Rodou liso. Menos um preconceito.
  • Ensino: fácil de explicar para o gamer (“é um jogo de cumprir contratos”), legal de ensinar para o civil pois tudo faz sentido tematicamente e fica fácinho de relacionar tudo.
  • Complexidade: na medida para aquele jogo mais leve-médio que mexe nos pontos certos da anatomia cerebral. Não ferve a cabeça, e não é bobo, e é até difícil achar a melhor jogada.
  • Interação: corridinhas pelos melhores cartuchos, revistas (comprei MUITA Game Power), objetivos e espaços de ações. Quanto mais players, maior a briga e os blocks. Pegou é seu, ninguém mais tira.

  • Combo BREAKER! gostei da liberdade em jogar/zerar quantos jogos tu conseguir em um mesmo turno. Isso gera aquelas jogadas que vão para o telão do replay no final do jogo: “eu zero esse cartucho com a revista, o que me da dois cristais que já uso caderninho para ganhar outra peça, que junto outra da trilha da empolgação e zero mais outro jogo e zaz e zaz!”.
  • Tema: quando se fala em jogos com temática brasileira só lembro de saci, império, carnaval, futebol, assuntos que não conversam comigo. Talvez o ponto mais forte dos autores tenha sido mexer em período histórico recente e bem peculiar da nossa realidade BR. Até ia falar que o tema não faria sentido no mercado internacional (tem um nome em inglês do jogo em alguma parte da caixa), mas quando vemos pelo lado histórico, é capaz dos gringos ficarem curiosos em saber como foi o início da cultura gamer aqui, antes mesmo de ter mato (em video, Tom Vasel falou que está louco para jogar a cópia que ele levou do DOFF). Menos um preconceitos.

  • Nome das ações: a simpatia de Fazer uma Promessa, Visitar a Vovózinha, Estudar dia e noite… tudo faz sentido no tema e diverte ao selecionar as ações.

Assoprando o Cartucho

  • Variabilidade: todas os cartuchos sempre aparecem a cada partida, mas em ordens e áreas diferentes. Além disso os objetivos mudam bastante o “valor” que cada cartucho tem para os jogadores. Não vi problema, mas alguns vão dizer que seria legal ter 8 mil cartas de cartuchos.

  • Escalabilibilibilidade (?!?): a locadora, banca e loja tem o mesmo tamanho independente da quantidade de jogadores, o que pode gerar experiencias frouxas (2p) a ultra apertadas (5p).
  • Cartucho inicial/Caderno de password: todos comentaram que acharam estranho todos terem as mesmas peças iniciais. Dentro do tema, todo mundo também recebia o mesmo jogo do Mario quando comprava um SNES. A temática venceu, mas o pessoal esta mal acostumado com assimetria em todo lado.
  • Tamanho da Caixa: ao menos na cópia de review que não possui todos os extras do financiamento coletivo, sobra bastante espaço na caixa. Cabe tudo sem tirar o “berço” de papelão branco. Gosto quando um jogo tem caixa pequena e entrega mais do que aparenta sabe? Tipo esses Devir como Red Cathedral, um Caledonia, um Race, um Innovation. Será que já pensaram no tamanho da caixa para suportar uma expansão? “A Era dos Camelôs” com a fase dos CDs piratas de PS1?

Deu Game Over

  • Setup: um pouco demorado, diversos baralhos, cartas para abrir na mesa, cartas para separar, a organização do próprio “tabuleiro” de ações com as pecinhas de botões. Quando jogamos mais vezes foi porque o jogo ficou montado na mesa, dando uma agilizada 42% o tempo de preparação.
  • Cristais: apesar de entender tematicamente o “brilho” dos novos jogos que os cristais representam, não tenho como olhar esses cristais e não lembrar de decoração da floricultura. O que me lembram outros jogos nacionais. Preconceito mantido.

  • Adesivos: não curto adesivos em meeples. Apesar da boa qualidade, preferia um peão genérico como um disco de madeira (Caverna-style). Preconceito mantido.
  • Verde: a cor do dinheiro e do jogador verde confundem. Watch out!

Nota do isR34L: Péssimo nome para o jogo. Não sei se é alguma coisa muito da região de São Paulo, mas pra gente de Santa Catarina, quase nem faz sentido. Eu iria preferir algo mais zoeiro como: “Locadora Champions”, “Os Campeões da Locadora”, ou até algo mais simples como “O Rei do Video-Game”. O termo “O Bom” soa totalmente off para mim. Me pergunto qual foram as outras alternativas.

Veredito

O Bom do Videogame me trouxe esperança na produção de jogos em território nacional. Jogos de cartas já são feitos por aqui com ótima qualidade, mas é bom ver jogo de caixa grande saindo bonitão da linha de montagem, mesmo que mesclando produção internacional.

Mais feliz ainda fiquei ao jogar e ver uma mecânica bem afiada, dinâmica e casada com o tema. Senti um jogo sem pontas soltas ou aquelas mecânicas que você sente o cheiro de longe que foram enfiadas no jogo para estancar algum sangramento cognitivo ou cumprir prazos. A paciência e dedicação de 5–6 anos fizeram efeito!

Selo Spiel des Djows para “Maior gerador de gatilhos em papelão para as melhores memórias da geração Y e anteriores”.

Falando em memórias, segue uma bizarra: “A Locadora da Fátima era uma salinha aqui perto de casa, onde essa senhora cancerosa (que devia ter uns 25 anos kkk) lucrava com a gurizada pagando 1 real a hora para jogar num sofá de couro esfarelado. O local tinha cheiro de cigarro porque a Fátima fumava uma carteira de derby inteira ao lado das crianças. Quando ela fechou, vendeu todos os jogo e eu peguei um Mortal Kombat Trilogy .

Tendo feito o maior preâmbulo-des-djows que já fiz, o jogo é um Nota 8. Sistema de Avaliação Spiel des Djows), pois eu jogaria facilmente na casa dos amigos, com setup montadinho pelos braços de outrem, em busca de melhores formas de combinar os botões e combar com a Empolgação.

É isso…. não, pera, não vai embora. Curte o final do review ali embaixo.

DLC Bonus

O review de hoje tem bonus, a opinião de todos que jogaram aqui. Acompanhe no replay:

Leo (LeoDoraJu): "Como pode? Um jogo com temática tão nostálgica ser tão divertido e tão estratégico?! Essa miscelânea de sentimentos tornou a experiência surpreendente.

Confesso que, quando vi o tema inusitado tive certo bloqueio, mas após entender as mecânicas envolvidas, tirei o chapéu pro game designer.

Falando em mecânicas, senti que todas estão muito bem amarradinhas entre si, desalocação de tiles pra executar espaços de ação, que já servirá de set collection pra cumprir com corridinhas.

E o anjinho da promessa?! Muito engraçado! O tema era muito forte na nossa experiência! Era muita piada na mesa!

Em fim, foi tão boa, nostálgica, divertida e satisfatória a experiência com os amigos, que nem me importei com a colocação. Na verdade nem acompanhei com a contagem de pontos, pois isso era um mero detalhe da experiencia que vivenciei."

Ju (JuImbituba): " Não posso dizer que fui uma grande jogadora de vídeo game, pois estaria mentindo, mas mesmo assim o jogo me trouxe boas memórias da minha infância, só pensava no meu irmão jogando ele (que aliás está ansioso para experimentar em julho, espero que o Djow possa emprestar, haha).

Ele foi feito de uma forma que nos traz muita nostalgia, ganhar dinheiro da avó ou uma fita dos pais, como promessa da criança foi uma sacada incrível.

O designer do jogo remete aos velhos tempos, com imagens bem anos 80 e 90. No começo achei que não ia gostar, quando vi aquela mesa cheia de informações pensei que não ia dar conta (aliás a mesa precisa ter um bom espaço para conseguir organizar tudo), mas no fim nem vi a hora passar, além de garantir boas risadas do grupo.

O Bom do vídeo game é um jogo que super indico a galera que viveu essa época."

Arthur (Artwa): “Eu achei um euro bem redondo. Tem boa interação entre os os jogadores, diversas maneiras de adquirir pontinhos e, o melhor pra mim: junção das mecânicas com o tema. Muito bem feito. O tema que não fazia minha cabeça no início da partida, me conquistou e deixou a vontade de mais partidas. Esperando o Cássio fazer o review pra pedir emprestado kkkk.

Felipe (Lanzen): Uma critica ao jogo apresentada por Felipe Nunes Lanzendorf

** Quanto as questões gráficas e e artísticas o jogo é muito bom tem aquele ar nostálgico das locadoras dos anos 90 e anos 2000. Os componentes também são bem produzidos. Nota 8,5/10*

** Quanto a jogabilidade e experiência o jogo me proporcionou uma imersão razoável. Apesar da abstração é perceptível o esmero em colocar o tema no jogo. É um euro com boas referencias e redondinho. O que me desagradou foi a ação de pegar botões em si ficou realmente muito abstrata e não gerou o sentimento de estar construindo algo, mas simplesmente vou ali e pego, faltou alguma coisa ai.*

É preciso uma mesa de porte grande para alocar o jogo o que o torna meio proibitivo. A quantidade de componentes gera um pouco de caos visual na mesa o que acaba deixando as ultimas rodadas difíceis de acompanhar, além de dificultar um pouco a contagem de pontos. Nota jogabilidade 6/10

Nota experiência 7/10

Em suma o jogo é divertido e nostálgico, mas tem questões técnicas que acabam deixando o jogo um tanto quanto difícil de acessar e compreender o andamento da mesa.

Cadu (CaduBG3), o maior vencedor, o verdadeiro Bom do O Bom do Videogame: Um jogo simples, chamativo porém principalmente nostálgico para aqueles que conviveram com consoles como Super Nintendo ou Mega drive.

Judas, O Gato: caixas de ótima qualidade, recomendo!

2 curtidas

Passando para dizer que concordo sobre sua opinião sobre o nome; demorei pra entender o que significava. O “bom” me remete a “as coisas benéficas” do videogame. E as vezes meu cérebro le “o boom”, como “a explosão de popularidade”. Realmente o nome não é bom, com perdão do trocadilho que também não é.

1 curtida

Dae Lucas, blz? o comentário sobre o nome ali que o Israel fez realmente ecoou aqui no grupo. A gente se embabacou e achou que não representou tudo que o tema foi na nossa vida.