Review definitivo sobre o melhor jogo de montar reinos com quadrados na Escócia.
O Contexto
Nossa primeira partida a 2p, eu e A Noiva (começo de abril de 2018)
Hoje vamos falar apenas jogo base, que foi lançado no Brasil pela Paper Games com algumas promos (que claro, despertaram minha fera interior do colecionismo e fizeram ir atrás de outras promos importadas… mas isso é história pra outro dia, e o texto entre parênteses ficou maior do que o texto principal). Outro dia falamos das expansões maiores.
Minha cópia chegou aqui faz tempo, através de uma troca eu acho, mas com certeza fui atrás dele por conta do nome na capa: Alexander Pfister ( ninguém sabe quem é o co-autor Andreas Pelikan). O importante é que o jogo conquistou os corações do grupo todo pela relação Tempo de Jogo X Decisões, tornando-se um dos jogos mais constantemente jogados aqui.
BORA!
O Bom
- A Mecânica: construção territórios é uma das coisas mais prazeirosas da vida, somente ficando atrás de jogar jogos de cartas sem sleeves.
- Iconografia: ahhh que delicia uma iconografia bem feitinha. Zero texto! O cérebro agradece pela facilidade de conectar as idéias do jogo apenas ao dirigir o olhar.
- Baixo downtime: ou até diria que, numa mesa com bom fluxo, zero downtime. Jogo em fases onde quase tudo é feito ao mesmo tempo pelos players.
- Setup enxuto: distribui biombo e castelos, 5 pilas por player, 4 janelas de pontuação e bora botar a mão no saco. Guardar tudo também é fácil.
- Regras: um folheto com 2 folhas, são essas as regras, fácil de consultar alguns detalhes durante a partida e a também iconografias de pontuação.
- Pontuação: as Janelas (16 no jogo base) de pontuação sorteadas são demais! Considero um destaque desse jogo, pois as semi-infinitas combinações trazem novos (e as vezes conflitantes) puzzles para serem resolvidos toda a partida.
- Relação Tempo X Decisões: quando você termina a partida de 45 min e analisa quanta coisa fez com meros 8 ou 9 tiles, a quantidade de decisões por metro quadrado para gerar pontos por rodada e fim de jogo, dinheiro, mini-combos… tive poucas experiências tão simples e cheias de recheio.
- Interação: através da fase de precificação temos a interação na melhor maneira Pfisteriana. Ninguém joga bomba no castelo do amigo ou rouba barris de whiskey das estradadas vizinhas. A interação é nebulosa e indireta, mas assim que um jogador começa a precificar com intenção de podar a compra ou tirar vantagem dos amigos, a mesa acorda e a especulação do mercado imobiliário escocês ferve.
- Leve mas nem tanto: e é na precificação que o jogo ganha um certo peso. Ele pode ser um mero um multiplayer solitário de “montar pecinhas num mapinha”, mas quando os jogadores se dão conta de que são responsáveis pela montagem do mercado, ai sim, a necessidade de análise e leitura de mesa (território) se torna obrigatória e a temporada de caça as melhores peças está aberta. ( Nota do isR34L : e foi justamente esse “peso” que me afastou do jogo durante bastante tempo. Caraí, como sou ruim nessa precificação!)
- Produção: Os tiles de paisagem são feitos de adamantium, mesmo amontoados dentro da sacola não sofrem qualquer dano. Minha dúvida eterna é: Foi fabricado no Brasil?
- Joga bem em várias quantidades de jogadores: 2p é bem pegado com análise forte do jogo do colega e marcação, em 3–4p ele roda liso, com espaço para leitura de jogo, variedade de peças e estratégias, mas reduzindo as possibilidades de controlar o jogo do amiguinho devido a quantidade de coisas acontecendo.
O Ruim
- Fator Tia-do-Jardim-de-Infância: Isso é característico de jogos com fases. Em algum momento você pode se tornar a pessoa que precisa falar como uma Tia: “Fulano é o jogador inicial (passando a ficha)… pode comprar as 3 peças e passar a sacola pro amigo… isso agora vamos precificar… Todos prontos? Vamos lá, Fulano começa comprando”. Isso aconteceu com frequência em mesas civis, mas também com gamers em dias menos inspirados. Cansa, e já cheguei a vender jogos só por conta disso. (Nota do isR34L: Selo Spiel Des Djows para Melhor Referência ao Sistema básico de Educação Brasileira num jogo de temática Escocesa)
- Carcassonne com Leilão: acho que essa classificação superficial e plana que o jogo recebeu Brasil mais atrapalhou do que ajudou, colocando expectativas onde não deveriam haver. Quem não gosta de Carcassonne ou Leilão deve ter passado longe, quem gosta de Carcassonne viu pouca semelhança fora os tiles quadrados, e quem curte leilão não achou leilão algum ali (Me recuso a chamar a fase de precificação/compra de leilão).
- Possíveis pontos para gerar AP: a sim, analysis paralysis pode ter aqui, sim senhor! Dependendo do perfil de UM jogador, são dois momentos que ele sozinho podem engasgar o jogo: (1) a impossível e vã precificação perfeita e (2) a busca pelo melhor encaixe de peça. Se um jogador travar em uma dessas fases ele trava o jogo de todo mundo. Evite!
- 5 players: Nessa quantidade de jogadores noto que o pessoal (1) tem muita dificuldade de analisar o jogo dos outros e (2) o mercado fica com muitas opções (10 pecinhas para escolher na largada). Isso gera um certo downtime na fase de preço e compra, além de pulverizar na mesa as intenções de interação e poda dos amiguinhos.
O Neutro
- Mecanismo de Ketchup: a forma como o jogo da mais uma graninha para quem está atrás na pontuação (catch-up mechanism) desagrada alguns. Eu não vejo problema e entendo que isso faz entrar mais grana na mesa para todos.
- Arte do Franz Ferdinand (ou Klemenz Franz, nunca lembro): há os que não curtam o traço dele, mas o fato é que ele traz A Cara do Euro para os jogos. Design limpo, iconografia clara… eu curto.
- Ruas sem saída: algo difícil de aceitar nesse jogo são as estradas que terminam NO NADA. Vai ter muita pergunta durante a partida sobre. (Nota do isR34L: Ué, não me disseram que é tipo Carcassonne? Claro que tá errado… #Carcassoneiro)
- Meu reino pequenino: alguns jogadores podem ficar frustrados em construir um reino capenga de 6–7 pecinhas. A sensação final pode ser de pouca realização. Mas tem que ter sido comido vivo pelos oponentes pra chegar nessa situação. Merecido…
- Pontuação (Round 2!): os Pergaminhos as vezes são esquecidos pela sutileza dos pontos gerados. Sinto que é uma mecânica que as vezes “sobra”, principalmente ao iniciante e fico na duvida quanto tempo demora para o jogador começar a dar atenção aos pergaminhos.
- O tema “euro”: Nunca me senti um chefe de clã escocês, mas também não sinto que estou num jogo abstrato. Tema eurozão raiz, dando suporte a arte e mecânicas, dando vida ao cenário montado pelo jogador.
Veredito
Um jogo sólido leve-médio que vai te entregar tudo de melhor se você souber jogar ele dentro desse peso, ou seja, nem como party game, e nem como simulador agrimensura. Entender as limitações do jogo como sorte e limitações de interação são coisas que vão te trazer uma boa disputa com momentos satisfatórios e construção de combos de pontuação e oportunidades de lucrar em cima da ganancia (ou burrice) dos amiguinhos.
Selo Spiel des Djows™ de "Melhor jogo de montagem de peças com pontuação variada onde você NÃO se sente um chefe de clã escocês lutando por dominância pelos territórios de uma ilha escocesa durante 45min".
Nota 9, tenho cópia e não passo. Jogaria agora mesmo, aliás, tens um minutinho para ouvir as regras para descobrirmos o preço da Escócia? (Sistema de Avaliação Spiel des Djows)
Até o próximo artigo, que vai ser sobre a expansão Journeyman.