Nações Unidas e o futuro: CO2, Segunda chance – a ONU, o jogo e um documentário

por Patanga Cordeiro

"O coração serve

As Nações Unidas –

Todas as nações."

- Sri Chinmoy

Mais um super tema e um super jogo para nos inspirar hoje: co2-segunda-chance . É um euro pesado que, no entanto e como é característico do Vital Lacerda, possui um tema muito vivo. Mas este não é um jogo de ganhar pontos de vitória, mas sim de satisfazer metas para um futuro luminoso para a humanidade.
Novamente, vou fazer aquela apresentação Tema > Jogo > Filme.

Preâmbulo – a ONU e suas metas
Conhecemos a mídia como um veículo tanto informativo quanto sensacionalista. Assim, as coisas são vistas como misturas do bom e do ruim. E as Nações Unidas não são vistas diferentemente pela mídia. Mas são vistas diferentemente por mim. Eu adoro a ONU. Tenho vários amigos que trabalham lá e, ao entrar no prédio em NY, tive uma das melhores sensações da minha vida inteira. Qualquer coisa que passa pela ONU tem, para mim, o toque angelical do Amor do Criador pela Criação. O Criador nos concedeu faculdades para mantermos a harmonia e condições ideais de viver uma vida divina aqui nesta criação; nada mais natural que, com o passar dos milênios, séculos, décadas, encontremos formas cada vez mais capazes de satisfazer os planos do Criador para com a sua criação. Meu professor de meditação, Sri Chinmoy, que inspirou em mim esse amor pela ONU e ofereceu meditações duas vezes por semana na sede em NY, a convite do Secretário-Geral, de 1970 até o seu último dia de vida em 2007, disse uma vez:

“Whoever leads the United Nations should use only the heart, only the heart. If he uses the heart, the rest of the world will connive at, or ignore, the shortcomings of the United Nations. The world will feel that the UN has a heart, a sincere heart. That sincere heart will be able to gain the confidence of the world. Now, because of unfortunate things that are taking place in various countries, the world does not have the same feeling, the same sympathetic heart.
Two things the UN can do. It can bravely speak out and say what it feels is the right thing to say, and at the same time it can beg the world to come to its rescue. It can also unreservedly take advice from the nations that are most sincerely ready and eager to help the United Nations come out of a very serious crisis.

I only love the United Nations. To the end I will love and love the United Nations. One good word if I hear about the United Nations, I literally dance in the sky.” – Sri Chinmoy

Para mim, essa é a visão mais clara que há sobre a ONU – sinto que não preciso de nenhum especialista inteligente para me ensinar os prós e contras – acho que o coração é o melhor juiz do que constitui felicidade, confiança, promessa e realização, e não a nossa especulação mental ou da mídia.

As metas de desenvolvimento sustentável da ONU e o jogo CO2

Agora chegamos à temática do jogo. Dentre uma série de “metas de desenvolvimento sustentável” propostas pela ONU e adotadas pelos países, uma delas é a da Convenção de Paris em 2015: evitar que a temperatura média no mundo suba mais do que 2ºC até 2040 (com uma segunda meta de 1,5ºC se possível). Os dois maiores motivos para o aumento da temperatura global são, primeiro, o uso de combustíveis fósseis (tanto por automóveis quando pela indústria) e, segundo, o desmatamento. Ou seja, os dois principais motivos estão diretamente ligados à presença do CO2 na atmosfera. A queima dos combustíveis o libera na atmosfera, e o desmatamento diminui a sua absorção pelas plantas de volta à terra de onde o carbono veio inicialmente. O jogo se fundamenta em instalar usinas de energia alternativa e reflorestamento nos seis continentes, de forma que eles não precisem continuar aumentando a emissão de CO2 para atender a demanda energética crescente causada pelo crescimento econômico e industrial. Cada jogador representa uma empresa que prestará serviços aos governos das nações para auxiliar no cumprimento das metas. Um propósito nobre, uma união das capacidades econômicas, administrativas e científicas. Assim o mundo vai pra frente!
Para saber mais, veja o ótimo documentário sobre o aquecimento global ou um outro breve resumo.

Funcionamento do jogo – uma década por vez
O jogo pode ser jogado de forma solo, cooperativo e competitivo – achei isso muito legal, pois os jogos cooperativos são os meus favoritos. Ele é dividido em quatro décadas, de 2010 a 2040. Nelas, cada jogador tem um número limitado de ações principais, que envolvem 1) projeto de usinas verdes, 2) construção de infraestrutura de distribuição da energia a ser produzida e 3) construção da usina. A fase de proposta atrai recursos do governo e mobiliza a comunidade científica. A fase de infraestrutura mobiliza a administração dos países para pagar o feitio da rede, e também dá know-how e acesso ao financiamento governamental para as empresas. Na fase de construção das usinas, a empresa tem que mostrar o seu trabalho e colocar a usina para funcionar. São 5 tipos de usinas: eólica, solar, hidrelétrica, reciclagem e reflorestamento, cada uma com suas peculiaridades in-game.
Se você construir justamente o que os países esperavam, você recebe a confiança deles cada vez mais, fazendo com que possa ter mais facilidade para construir lá na próxima década. Os países permitem que você administre as PECs, as Permissões de Emissão de Carbono, que seria o limite de emissão de CO2 para as metas ambientais. O que acontece é que mesmo para construir usinas verdes, há emissão de CO2 – o material usado para construir a usina e toda a infraestrutura de distribuição em si exige que as fábricas locais sejam empregadas para produzir material – e isso em si gera uma emissão de CO2 na atmosfera. (Mas, para compensar esse efeito, as peças das usinas são tão bonitinhas… cada usina é feita de uma peça de madeira única e bem bonita! Vide foto mais acima, de uma usina eólica.)
As outras ações chamadas de secundárias são 1) pesquisa científica, 2) especulação financeira e 3) Uso das cartas, que podem ser as cartas dos lobistas (que lhe darão benefícios se você construir um tipo de usina para o qual eles fornecem material, por exemplo) ou o cumprimento das metas específicas da ONU, referentes à quantidade e distribuição dos diferentes tipos de usinas verdes no mundo ou em um dado continente.
A pesquisa científica é bem legal, pois o cientista que trabalha num tipo de energia pode ir para o congresso científico, explicar o que aprendeu para os outros cientistas e também aprender com os outros, trazendo mais conhecimento para a sua empresa. Isso faz com que fique mais fácil utilizar essa tecnologia específica. A especulação também é uma novidade bem legal nesse jogo. Basicamente, você vende uma PEC (Permissão de emissão de carbono) nesta rodada pelo valor de 3, mas isso faz com que o preço abaixe na próxima rodada, pois a oferta aumentou. Então você compra essa permissão mais barata na rodada seguinte. É uma forma legal de conseguir “um trocadinho”, pois o jogo é bem apertado e você precisa sempre ficar esperto para não ficar sem recursos financeiros, tecnológicos, tempo hábil ou PECs para atingir as metas.

Fim da década
Ao fim das rodadas de cada década, chega a hora de mostrar as estatísticas para a ONU. Ganhamos pontos por fazer usinas, ganhamos recursos da ONU por avançar numa tecnologia verde, recebemos investimentos ao propor projetos nos países, e por aceitar as propostas dos lobistas… Mas o que importa é o meio-ambiente! Cada continente sem uma usina verde construída fará uma usina de combustível fóssil mesmo, pois ele tem de continuar produzindo! A ONU está de olho, e você perde pontos por não atingir as metas parciais que foram estabelecidas. O principal é manter os níveis de CO2 abaixo de 500 ppm. Se passar disso, você precisa gastar seus pontos para abaixar o nível de CO2.

Fim do jogo e considerações finais
Ao fim das quatro décadas, você precisa ter satisfeito cerca de 70% dos objetivos da ONU e também 50% dos seus objetivos pessoais (varia com modo de jogo e número de jogadores). Posso dizer que é uma grande corrida para chegar lá. Você tem realmente que ficar correndo atrás e fazendo malabarismos com recursos, necessidades iminentes e diferentes em cada país, fiscalização da ONU, usinas fósseis poluindo a atmosfera, etc.
O que achei legal é que o sistema de pontos, uma das principais marcas dos jogos euro, é só uma espécie de bóia, um recurso adicional. O principal do jogo é satisfazer as metas. É como se fosse um tema ameritrash inserido no pesado euro que esse jogo é. Foi muito refrescante.
Achei o CO2 mais fácil de aprender e jogar do que o Lisboa, do mesmo autor, o Vital Lacerda. O Lisboa me sentiu mais complexo em seu mecanismo (e principalmente no manual, menos claro), mais difícil de planejar seu turno, e menos prazeroso tematicamente. No CO2, você se sente um herói desconhecido. No Lisboa, você está ajudando a reconstruir o comércio e prédios públicos na parte baixa da cidade. Claro que é ótimo, e incrível, mas para mim não se compara com a satisfação de ser um dos braços da ONU para o futuro da humanidade.
Outra

Apêndice 1: Mais sobre a ONU
Tenho um site de poemas, frases e mensagens, e, naturalmente, fiz uma seção de escritos que coletei sobre a ONU. Aqui seguem alguns desses escritos para quem tiver interesse.

[Buscar] reafirmar a fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e valor da pessoa humana, nos direitos iguais dos homens e mulheres e nações grandes e pequenas, e estabelecer condições sob as quais a justiça e respeito às obrigações oriundas dos tratados e outras fontes de lei internacional possam ser mantidos, e promover progresso social e melhores padrões de vida em maior liberdade.
-Trecho da Cartilha das Nações Unidas

A lua presa dentre os galhos,
Preso por seu voto,
Meu coração pesava.

Nuas contra a noite,
As árvores dormiam. “Mas, seja feita a
Vossa Vontade e não a minha…”

O fardo continuava meu:
Não se podia ouvir o meu chamado
E tudo era silêncio.

Logo, agora, as tochas, o beijo:
Logo a aurora cinzenta
Na Sala do Julgamento.

O que seu amor ajudará lá?
Lá, a única questão
É se eu os amo.

-Dag Hammarskjold, segundo Secretário-Geral da ONU
26/11/1960
Escrito aproximadamente um ano antes do seu assassinato no Congo Belga, a serviço da ONU, provavelmente um poema profético da sua morte. Pense só quantos líderes mundiais possuem esse nível de altruísmo na realização das suas responsabilidades? Não sei quantos, mas sei que na ONU tem!

Neste mundo, vemos pessoas que apenas falam, outros que falam e então agem, outras que falam e agem ao mesmo tempo, e ainda há outras que apenas agem e deixam que os outros falem por si. Por fim, há um tipo de pessoa que apenas age, por consagração à ação divina. Tal é a categoria suprema. Sem a menor hesitação, digo que as Nações Unidas pertencem a essa categoria. Eu não conheço as realizações exteriores da ONU. Mas, sendo um buscador da Verdade altíssima que reside no mundo interior, que vê e sente e sabe o que as Nações Unidas estão fazendo, sou perfeitamente familiar com as conquistas interiores das Nações Unidas.
-Sri Chinmoy

Um Hino às Nações Unidas

Alegre, ó músico,
Toque as suas cordas
Para que possamos cantar.
Elevados, suplicantes,
Nossas vozes diversas
Misturando-se,
Jovialmente disputando
Não interferindo,
Mas coexistindo,
Pois tudo dentro
Do cinturão
do som
É solo sagrado,
Onde todos são irmãos,
Não há Aqueles sem face,
E mortais atentos
Às palavras, pois
Com palavras mentimos,
Podemos dizer paz
Quando queremos guerra,
Maus pensamentos bem ditos
E promessas falsamente feitas,
Mas a canção é genuína:
Que a música pela paz
Seja o paradigma,
Pois paz significa mudar
Na hora certa,
Como o Relógio-Mundo
Faz tique e taque.
Que a história
Da nossa cidade humana
Hoja mova-se
Como música, onde
Notas criadas
Novas notas criam
Fazendo do fluxo
Do tempo um crescente
Até o que poderia ser
Por fim seja,
Onde mesmo a tristeza
É uma forma de alegria,
Onde o destino é a liberdade,
Graça e Surpresa.
-W.H. Auden (em tradução)

O nosso trabalho pela paz deve começar no mundo privado de cada um de nós. Para construirmos para os homens um mundo sem medo, devemos der destemidos. Para construir um mundo justo, devemos ser justos. E como poderemos lutar pela liberdade de não formos livres em nossas próprias mentes?
-Dag Hammarskjold, Secretário-Geral da ONU

Apêndice 2: Jogo sobre a ONU
Por sinal, para quem leu até aqui ou pulou para o final, vou compartilhar que estou desenvolvendo um jogo cooperativo sobre a ONU, que terá as mecânicas de votação de resoluções, ajuda humanitária, política interna, tensões militares, direitos humanos e cultura no mundo, etc. Cada jogador será um Subsecretário-Geral, e cada rodada representará os mandatos de um Secretário-Geral - onde veremos votações inesquecíveis, como a da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A mecânica básica está montada (seria um Pandemic com elementos do Eldritch Horror, somado a uma fase extra de votação de resoluções e outra para solucionar as tensões do mundo, baseado no que foi votado anterior).
O esqueleto do jogo e algumas poucas cartas já foram feitas, o suficiente para jogar uma rodada ou duas, mas precisamos ainda escrever várias cartas. Se alguém quiser contribuir escrevendo textos para as cartas, basta entrar em contato. O meu trabalho será voluntário e eu gostaria de doar o design do jogo para a ONU, com o valor das vendas revertido para os projetos que ela entender mais relevantes.

Outras análises do canal:
https://www.comparajogos.com.br/f/g/leao-livros-e-jogos/activity/topics

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