Dezembro chegou! E com o fim do ano também chegaram os amigos-secretos em família, as uvas passas nas receitas, o recesso da firma, o especial do Roberto Carlos e, é claro, a tão aguardada Retrospectiva 2023!
Desde que vislubramos uma melhora na pandemia, se fala em retomada. E acredito que 2023 foi, de fato, o ano da retomada. Em todos os sentidos. No trabalho, os projetos estão à todo vapor. No hobby, mais lançamentos, mais eventos, mais jogatinas. Se 2022 foi bom, 2023 foi ainda melhor!
Para estes ano, a ideia é fazer, novamente, um apanhado geral com os dados compilados dos consagrados BGStats e Geekgroup.app além de algumas reflexões e highlights do ano. Boa leitura!
Too fast too furious
O insight do Geekgroup diz que 83% não fazem parte da minha coleção, o que representa um aumento de 10% se comparado com 2022. Ou seja, tenho jogado mais cópias de outras pessoas. Espero que quando for falar da coleção, descubra que apenas estou comprando menos!
Dentre os mais de 150 jogos, 18 jogos foram vencedores do Spiel (Spiel, Kennerspiel ou Kinderspiel), 8 indicados e 18 recomendados pelo prêmio. O mais antigo foi o Sherlock Holmes Consultanti, indicado no Spiel de 1984 e o mais recente foi o Challengers!, vencedor do Kennerspiel de 2023.
Este ano consegui jogar boardgames com todas as letras do alfabeto. O desafio, sempre, são jogos que começam com “X”. E não, não consegue jogar XIA ou XCOM esse ano. A salvação foi jogar uma partida solo de Xerxes no Tabletopia.
O primeiro título jogado no ano foi Black Stories 4 no dia 01 de janeiro. O centésimo título foi Codenames, jogado no dia 10 de junho. E o último do ano foi o descompromissado Last Message. Mantive a meta de conhecer 100 títulos até fim de 2023 mas a marca foi atingida ainda em junho!
A quantidade de jogadores mais usual em 2023 foram 3 e 4 jogadores com, respectivamente, 36% e 31% do total de partidas! Na sequência, com 15% do total, as partidas em 2 jogadores — para comparação, ano passado foram 39% das partidas. As partidas solo também tiveram uma retração, sendo apenas 7% das partidas em comparação aos 15% em 2022. O dia da semana com mais partidas foi terça (22%) seguido de perto pela quinta (19%) e em terceiro lugar a segunda-feira (15%). Este ano, a Joyjoy Café foi o local que mais viu mesa, com 42% do total de partidas, superando até mesmo as partidas digitais no BoardGameArena (40%).
Foram 376 partidas em 169 dias totalizando 349 horas de jogatina — considerando apenas partidas presenciais e registradas no BGStats! O mês mais prolífero foi janeiro com 55 partidas e 30 jogos diferentes que ajudaram no desafio de 100 jogos! Os títulos mais jogados em 2023 foram Ark Nova, Sagrada, Great Western Trail, As Ruínas Perdidas de Arnak e Similo.
Sommelier de jogos
Enquanto 2022 foi uma Ode aos jogos de caixinha, em 2023 percebi um leve desvio em direção aos jogos médios. Indo na contramão do hype — carteado, estou falando de você! — consegui me aventurar em jogos de safras passadas que envelheceram bem (odeio esse termo!) e que não conhecia ainda como Concordia e Burgundy.
Hm…notas de alocação de trabalhadores com retrogosto de deckbuilding.
Veja, não é como se eu fosse imune ao hype! Joguei vários desses títulos “famosinhos” este ano como Cat in the Box, Scout, Trick of the Rails, Papayoo, Velonimo, Homem Batata e etc. E eles são legais! Mas senti falta de uma experiência um pouco mais longa e complexa.
Comparando os gráficos abaixo , o padrão de complexidade dos jogos quase se manteve de um ano para o outro, exceto por uma “anomalia” no quadrante dos pesos médios — entre 3.5 e 3.74 segundo o BGG. Dos 5 jogos mais jogados por aqui, 3 deles estão no Top 30 do BGG, sendo o Ark Nova (peso 3.74) o mais bem ranqueado, seguido de Arnak (2.91) e GWT (3.72).
Comparativo entre 2022 e 2023. É, quase imperceptível, eu sei.
Fechado para balanço
Em 2022 fechei o ano com 57 jogos aqui na estante. Este ano estou terminando com 51 jogos! Mas parece que a coleção teve mais movimentação em 2023 em comparação ao ano anterior.
Este ano passaram mais de 50 jogos por aqui e 60 e tantos ganharam novos lares — desconsiderando expansões. Participei de 5 das 6 Math Trades que rolaram este ano em Curitiba — contando com as Leftovers. E foram apenas 8 jogos trocados (desse montante de 50 / 61 jogos que mencionei acima).
Entre idas e vindas na coleção, a Prateleira do Horizonte ficou ainda menor: apenas 12 jogos não foram para mesa ainda. Das promessas do ano passado consegui cumprir 50%. Ticket to Ride Europa 15 Anos segue sem sujeira de Doritos ou cartinhas amassadas por aquele amigo ansioso!
Mas ainda falando em coleção, sinto uma consistência em uma reflexão que eu trouxe no ano passado: a vontade de me afastar um pouco do lado acumulador e focar no lado jogador. E pelos números, parece que está dando certo!! Continuo na busca pelo número áureo de jogos na coleção.
Remoto x Presencial
Como já mencionado, 40% das partidas deste ano foram no BGA. É fato que os meios digitais fazem cada vez mais parte do nosso dia a dia e no hobby não seria diferente. A plataforma conta com um acervo de mais de 700 jogos, com adições periódicas de novos títulos e uma comunidade fiel.
Mas aqui, tivemos uma mudança significativa de comportamento. Enquanto ano passado eu joguei inúmeras partidas assíncronas contra pessoas que eu mal conhecia, em 2023 consegui jogar mais partidas em tempo real com amigos reais! Inicialmente houve uma resistência mas é inegável que há pontos positivos nisso. Listando rapidamente:
- Acervo
- Sem tempo de setup
- Sem jogadas não permitidas
- Aprender/fixar regras
- Cálculo da pontuação final
Apesar de sempre entrarmos no Discord durante as partidas, não substitui a boa e velha resenha presencial. C’est la vie.
A Sociedade do Pastel
Em 2022, o Trello teve um papel muito importante de unir a comunidade. Muitas pessoas entraram no hobby durante a pandemia. Vimos algumas lojas fecharam, outras abrirem neste período. A ferramenta permitiu jogadores conhecerem seus semelhantes, novos jogos e novos lugares.
Como resultado, grupos se formaram seja por afinidade, seja por gosto, seja por localização ou por qualquer outro motivo. Comigo não foi diferente e também formei meu grupo. Isto me possibilitou jogar títulos como LOTR Journeys in Middle-earth, Pandemic Legacy Season 0 e, mais recentemente, Ticket to Ride Legacy — Lendas do Oeste. O que todos esses jogos tem em comum? Precisam de um grupo sólido e comprometido!!
Ano passado, A Iniciativa explodiu a minha mente e este ano queria uma experiência parecida. Consegui! Enquanto LOTR JIME traz essa ideia de continuidade, com uma I.P. que eu gosto e uma narrativa interessante, o Pandemic Legacy tem aquele gostinho de surpresa ao descobrir novas regras e componentes que alteram a jogabilidade. Mas a cereja do bolo foi o TTR Legacy — Lendas do Oeste. Não prometeu nada, entregou tudo!
Outro ponto positivo foi a possibilidade de conhecer tantos jogos novos! O legal dessa convivência com outras pessoas do hobby é a pluraridade de gostos e interesses. A cada semana alguém queria conhecer ou jogar algo novo. Isso, certamente, contribuiu para os 165 títulos diferentes jogados.
Outro destaque foi a recorrência em alguns títulos! Isso era desejo que eu tinha: conseguir me aprofundar mais em alguns jogos. Inclusive, atiçou uma rivalidade sadia em jogos como Ark Nova e GWT — isso explica porque estão entre os títulos mais jogados! A cada partida, uma nova estratégia para superar o adversário ou fazer uma pontuação maior.
Première Galápagos
E por falar em jogos novos, outra coisa muito legal que rolou este ano foram as Premières da Iguana. O formato, criado ano passado, voltou à Curitiba para uma temporada! E qual a idéia da Première: mensalmente a Galápagos elenca um lançamento para ser apresentado ao público num evento exclusivo e presencial em diversas luderias pelo Brasil.
A loja parceira escolhida para Curitiba foi o Joyjoy Café e já fiquei muito empolgado. Tanto pelo evento quanto pela escolha do lugar! O que eu não sabia naquele momento é que a minha primeira experiência com a Première — e todas as outras — seriam do outro lado do balcão!
Me convidei à ser monitor no primeiro lançamento e permaneci até o final. Ao todo, foram 10 jogos lançados desta forma. A experiência toda foi muito legal e surpreendente em alguns aspectos. Obviamente, o objetivo maior era ter acesso antecipado aos jogos. Eles chegam para nós com uma certa antecedência para familiarização e aprendizagem.
Além disto, me aproximei de todo o staff da loja, conheci outros clientes de carteirinha, participei dos brainstormings de cada evento e tomei até gosto pela monitoria. Quem diria?!
O evento tem alguns pontos que poderiam ser melhores mas, vendo o lado bom, a iniciativa é muito bacana! Movimento todo o ecossistema: editora, lojistas e jogadores. Espero que a Galápagos continue investindo nesse modelo para 2024 e que anunciem muita coisa boa no Spoiler Fest!
Troféu Lagartixa Dourada
Existe um fetiche no universo dos tabuleiros que são as listas de jogos numeradas por determinado critério: o famigerado TOP. Não curto. Não que eu seja preconceituoso, veja, até tenho amigos que são adeptos. Mas acho um grande desperdício de energia elencar jogos seja pelo método que for, além da manutenção dessa classificação periodicamente.
Além disto, não consigo analisar de forma clara e objetiva o que faz um jogo se melhor que outros. Claro, tenho meus preferidos também mas gosto deles igualmente. Igual minha mãe fala sobre eu e meus irmãos.
Feita toda essa introdução, anuncio o recém criado Troféu Lagartixa Dourada para premiar as melhores e piores experiências no hobby em 2023. Qualquer semelhança entre o nome do prêmio e alguma editora é mera coincidência. Bora lá, sem nenhum compromisso!
Jogo de campanha - Ticket to Ride Legacy: Lendas do Oeste
Jogos de campanha são uma verdadeira maldição. Não só comigo mas já ouvi relatos pela comunidade. Até então, nenhum jogo havia emplacado mas só este ano participei de 3 campanhas! E o destaque ficou para o TTR Legends of the West que conseguiu surpreender positivamente com a adaptação do consagrado jogo de construção de rotas para o formato legacy. Faltam ainda 4 partidas para fecharmos a campanha mas já está deixando saudades. O mais importante é a jornada, não o destino!
Melhor jogo da Première - Twilight Inscription
Tivemos jogos de todos os pesos, mecânicas e temáticas na Première Galápagos. Mas o que eu mais me diverti aprendendo e ensinando foi o Twilight Inscription. Não só por ter sido o primeiro evento mas acho que tem complexidade na medida e um tema que eu amo — sci-fi.
Pior jogo da Première - Champions!
Esse “jogo” é tão simples que não sei se chamaria de jogo. Ok, existe um sistema de pontuação e um vencedor mas mesmo assim não me pegou. Mas no fim as pessoas se divertiram e este é o objetivo do hobby!
Forever Alone - The Lost Expedition
Este meme é do tempo de vocês? The Lost Expedition foi uma grata surpresa! Apesar do jogo suportar até 5 jogadores e também modo cooperativo e competitivo em times, a comunidade indica que ele funciona melhor solo. E eu não dúvido! Foram algumas partidas deste jogo que tem um tema interessante, arte incrível e um feeling de Solitaire. Indico demais!
Melhor uso de aplicativo - Unlock!: Aventuras Heroicas
Outro tema controverso na comunidade: telas x tabuleiros! De modo geral, prefiro designs em que seja possível a resolução de ações todas de forma analógica, sendo o aplicativo apenas um companion. Porém em jogos investigativos e narrativos — que eu adoro, por sinal! — esse recurso vem bem a calhar para evitar frustrações e spoilers. E o Unlock! conseguiu ainda surpreender ainda mais com um companion que faz parte dos puzzles a serem resolvidos.
Melhor jogo raíz - Sherlock Holmes Consulting Detective: Os Assassinatos do Tâmisa & Outros Casos
Em contrapartida, outro jogo investigativo e narrativo que foi destaque é o clássico Sherlock Homes Consulting Detective, de 1982. Uma verdadeira experiência antropológica para Gen Z. Neste jogo, você compete contra o maior detetive na resolução de diversos casos. E para isto, você dispõe apenas de um mapa, um jornal e uma lista de endereços. Brilhante!
Nos menores frascos estão os melhores perfumes - Spots
2022 foi o ano dos jogos de caixinha, por isto, acho importante trazer pelo menos 1 destaque por aqui. E vamos de Spots, um jogo de dados no estilo force sua sorte com uma arte lindíssima e tema de cachorro. Infelizmente só joguei no BGA mas faria muito sucesso no nosso mercado.
Vale a pena ver de novo - Lacrimosa
Aposto que você leu cantando!! Lacrimosa é um jogo que eu tinha bastante curiosidade pela produção e tema. E o hype era real! Gostei muito da mecânica de ações usando as cartas, além de ter construção de baralho e um controle de área que influência muito na pontuação final. Quero revistar a obra — do Mozart e da dupla Gerard Ascensi, Ferran Renalias.
Fuja, loco - Bananagrams
Outro tipo de jogo que me agrada são os que trabalham palavras, significados e relações. Não é o caso do Bananagrams. O título em questão é uma corrida para conseguir se livrar da mão cheio de tiles de letras, formando um grande palavras-cruzadas. A ideia não é ruim mas a mecânica de substituição de letras é chata e você pode acabar travado.
E sem mais delongas …
Chegamos ao fim dessa retrospectiva! Se você sobreviveu a isto, com certeza está preparado para uma partida de 8 horas de Twilight Imperium IV. O texto ficou mais longo do que imaginava mas espero que tenha sido uma leitura no mínimo interessante, caro leitor!
Para 2024 quero que o hobby continue leve e divertido, como deve ser! Sigo na minha missão em reduzir a coleção apenas aos jogos “essenciais” e que veêm mesa frequentemente. Sem essa ilusão de que tais jogos funcionaria na minha mesa em determinadas situações. Por conta disto, não farei nenhuma promessa. Veremos o que o futuro nos reserva!
Votos de um ótimo fim de ano e um ano novo ainda mais incrível! Aproveitem seus entes querido, comam bastante, bebam com parcimônia e joguem muito!!