Santo Domingo – Os que arriscam, lucram mais
Título : Santo Domingo (2017)
Designer : Stefan Risthaus
Arte : Klemens Franz
Editora nacional : Papergames
Nº de jogadores: 2 a 6
Em Santo Domingo, através da seleção de ações simultâneas, os jogadores irão representar mercadores no mais competido porto do novo mundo. Temos em Santo Domingo um jogo pequeno, com poucos componentes, mas que consegue apresentar uma engenhosidade mecânica simples, porém muito inteligente.
Critérios
Ø Arte
Santo Domingo apresenta uma arte colorida e simpática, característica do consagrado ilustrador Klemens Franz (Clãs da Caledônia, Mombasa, Agrícola, Caverna: Cave x Cave, Orleáns, Grand Austria Hotel, Lorenzo il Magnífico, Patchwork, Le Havre, Altiplano, Suburbia, Oh My Goods, Isle of Skye, Newton, Ora et Labora, Barenpark, Luna, Noria…tá bom? Se quiser, dá pra citar mais!). A paleta viva e variada de Santo Domingo, além de dar um ar jovial e nada intimidador (como é costume do artista), ainda serve como parte da identificação das cartas, onde é possível reconhecer após a primeira partida a qual tipo de ação a carta está ligada, antes mesmo de olhar em detalhe.
O jogo possui, além das cartas, um pequeno tabuleiro com três trilhas, que servem para marcar as mercadorias, pontos de vitória e uma taxa de conversão de mercadorias para pontos, elaborado de forma simples, sem ilustrações ou texturas, o que facilita a leitura. O jogo é isento de idioma (com exceção de numerais e a palavra “MAX”) e possui poucos ícones, facilmente memorizáveis.
(algumas cartas do jogo)
Ø Qualidade dos Componentes
Temos um jogo bem direto ao ponto, seja na sua concepção mecânica e arte, assim como nos componentes que recheiam sua caixinha.
O jogo vem com alguns cubos de madeira coloridos e pequenos, mas um tamanho que não incomoda a funcionalidade ou visibilidade e com um tabuleiro cartonado com boa gramatura e impressão. Além disso o jogo apresenta cartas de excelente qualidade, que não tem necessidade de serem embaralhadas, logo não exigem necessariamente sleeves (os plastiquinhos de proteção).
A caixa de Santo Domingo segue o padrão da Papergames, logo são bem rígidas, com excelente impressão e verniz localizado em algumas partes, além de vir com um bercinho de papel que comporta tudo com espaço e sleeves. O manual também segue o padrão da editora, sendo feito em um papel de uma gramatura grossa, totalmente colorido, cheio de imagens e exemplos.
(Componentes do jogo)
Ø Curva de Aprendizagem
Santo Domingo é um jogo bem simples: Cada jogador, simultaneamente, escolhe uma carta (ou duas, se jogado em 2 ou 3 jogadores), a coloca fechada sobre a mesa em sua frente e quando todos tiverem escolhidos, as revelam e elas começam a ser resolvidas do menor número (1) aos maior (8). Dessa forma, mecanicamente, o jogo é bem simples. Acaba não sendo tão rápido de ser explicado, pois cada uma das 8 cartas (cada jogador possui um conjunto próprio) faz uma ação diferente (ou ‘só um pouco diferente’ em alguns casos) das demais, porém não se leva mais de dez minutos de explicação.
Por outro lado, a malícia do jogo é algo que demora um pouco mais de tempo para se pegar, pois as cartas baixadas pelos jogadores interagem entre elas e com os recursos disponíveis. Santo Domingo é, acima de tudo, um jogo de leitura de mesa e de oportunidades. O momento de baixar uma carta deve ser pensado com base no que os jogadores já usaram e não tem disponíveis e com base no que ACHAMOS que eles fariam, caso contrário, a ação da carta baixada pode ser pouco otimizada ou até inútil!
Ø Presença de Tema
O título do jogo refere-se à cidade de mesmo nome, Santo Domingo, que é capital da República Dominicana, uma nação situada em uma das ilhas do Caribe. Santo Domingo tem uma importância histórica, por ter sido a primeira sede do governo espanhol no Novo Mundo, logo seu porto era referência e extremamente movimentado. Apesar de ter muito o que falar e prestar homenagem à cidade, o jogo não se preocupa com mais de um parágrafo para apresentar Santo Domingo, apesar de sua grande importância histórica.
Mecanicamente, somos pessoas que influenciam COISAS importantes de um porto para pegar mercadorias, pontos de vitória/glória e fazer ações de conversão entre mercadorias e pontos. Chamo de “COISAS”, pois ao mesmo tempo que temos cartas de “Comerciante” ou “Governador”, temos cartas de “Fragata” ou “Alfândega”, logo não existe muita consistência na justificativa temática. O jogo não apresenta um comércio de fato, pois não existem recursos como dinheiro ou negociações, apenas a aquisição de mercadorias ou pontos de forma livre e direta, sem nenhum custo, se não o uso de cartas específicas e a disponibilidade dos mesmos nas trilhas do tabuleiro central.
(fundos das cartas. Cada jogador possui seu conjunto pessoal com 8 delas)
Ø Rejogabilidade
Santo Domingo é um jogo rápido (raramente passa de 20 minutos) sobre ler a mesa e ler as pessoas (ou tentar!), logo ele não apresenta muita profundidade a ponto de existirem diferentes formas de se pontuar. Porém, isso não é necessariamente ruim, pois muitos caminhos ou novidades talvez fariam o jogo perder seu charme, que é sua agilidade e a leitura de mesa (algo que não é tão simples fazer de forma totalmente consciente).
Apesar disso, o jogo ainda apresenta duas variantes, uma simples, que consiste em apenas “jogar por mais tempo”, já que o jogo acaba quando uma pontuação específica é alcançada por algum jogador, e o outro modo variante consiste em usar o lado oposto do tabuleiro central, onde as conversões são mais caras, exigindo um timing (julgamento de quando fazer o que) um pouco diferente, além de um planejamento maior em relação ao acumulo de mercadorias.
Ø Interação
O jogo é altamente interativo, baseando sua mecânica justamente na interação dos jogadores. Quando as cartas são reveladas, o que cada jogador desceu na mesa interfere diretamente com as demais, logo é preciso sempre estar atento ao que o outro jogador fez rodadas anteriores e o que achamos que ele pretende fazer na atual.
Ø Fator Sorte
A sorte é nula em Santo Domingo. Todos jogadores têm a sua disposição no início da partida todas suas oito cartas, portanto todo e qualquer desdobramento ocorre por escolhas diretas do jogador ou interferência dos adversários, não existindo nenhum elemento que traga aleatoriedade ao jogo. De fato, podem ocorrer muitas surpresas, alegrias e frustações quando os jogadores revelam suas cartas, porém como nenhuma dessas emoções são fruto de algo senão a escolha direta de alguém, não considero este tipo de interferência dentro do Fator Sorte.
Ø Fator Estratégia
Este pequeno jogo apresenta um fator tático (a curto prazo) e estratégico (a longo prazo) elevadíssimo. Qual carta será jogada e em qual momento são indagações que estarão na mente dos jogadores o tempo inteiro, turno após turno.
Em um primeiro momento, pode parecer que pegar pontos de vitória são mais vantajosos do que simplesmente pegar mercadorias, contudo, após entender bem a engrenagem do jogo é possível ver que as mercadorias, apesar de não darem pontos de forma imediata, conseguem através das ações de conversão renderem bem mais pontos. Esta ação, inclusive, foi responsável por algumas reviravoltas na pontuação.
Uma questão levantada em alguns comentários sobre o jogo é que ele é melhor em 4 ou mais jogadores (vai até 6). Concordo em partes, não diria que fica melhor, apenas diferente, logo vai depender muito das preferências de cada um. O jogo com menos pessoas fica menos caótico e com menos adversários para serem lidos, mudando um pouco sua dinâmica, mas não consigo dizer ainda que fica ruim por isso. Em uma mesa cheia, certamente terá mais gente indignada com sua escolha errada, assim como, eventualmente, aquela pessoa que dará pulos de alegria por ter se dado muito bem, já que terão mais cartas na mesa, logo a probabilidade de cartas se anularem ou atrapalharem os planos de alguém é maior. Com menos pessoas, isso ocorre bem menos, deixando o jogo com mais cara de blefe e o contato visual, olho no olho, mais perfurante.
Opinião Pessoal
“Amo jogos pequenos que se empenham em apresentar uma única mecânica principal e o fazem de forma inteligente. Este é o caso de Santo Domingo, que consegue trazer uma experiência rápida e leve, focada em seleção de papeis, mas conseguindo se distanciar de jogos como San Juan ou Race for the Galaxy, por priorizar a simplicidade. Durante a partida toda precisamos jogar por todos na mesa, sempre ficando atento ao que já jogaram e tentando antecipar qual a carta que cada adversário irá jogar, para otimizar a que nós jogaremos. É um jogo enxuto que cabe em toda coleção e irá agradar todos públicos, desde aquelas pessoas que gostam mais de jogo festivos à quem gosta de jogar sem perder o foco tático em nenhum momento.” (Raphael Gurian, O Comerciante)
“Santo Domingo é um ótimo jogo de cartas para se passar o tempo e é bastante atrativo em seu tema e arte, com uma mecânica simples e rápida subida na trilha de pontos. Sendo bastante dinâmico, o jogo é uma espécie de corrida por pontos e as estratégias podem mudar conforme o número de jogadores, mas sem perder a emoção em tentar realizar a melhor escolha possível de cartas, dentro de cada jogada, a fim de ganhar o mais rápido possível aquela partida. Mas cada escolha é um risco, podendo haver bônus e ônus em suas jogadas. É um jogo que indico para se ter na coleção, funcionando muito bem em dois ou mais jogadores.” (Heloisa Fernandes - Lola_Fernandes, A Almirante)
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em reviews de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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