💬 Você se considera bom/boa em ensinar jogos?

Este fórum é frequentado por pessoas entusiastas do hobby — ou seja, aquelas para quem quase sempre recai a responsabilidade de ensinar o resto da mesa a jogar.

E ensinar jogos é, definitivamente, uma arte.

Mais especificamente, eu diria que é similar à arte da comédia stand-up: é preciso ter um repertório muito bem decorado e ensaiado (as regras), ter um ótimo delivery desse repertório, ser capaz de perceber a resposta do público, ter flexibilidade para mudar a abordagem no improviso caso não esteja agradando… (Sem contar que ser interrompido/heckled é péssimo!)

16-george-carlin-concert-photos2

No fim, o que muda é o objetivo. Enquanto o comediante quer ver as pessoas rindo, o ensinador de jogos quer ver o seu público com cara de quem entendeu o jogo, achou interessante e quer pôr esse entendimento em prática.

E aí, você se considera bom/boa nisso?
Você gosta de ensinar, ou faz só porque precisa? Quais são as suas melhores técnicas para ensinar? Você ensina tudo de uma vez ou vai ensinando durante a partida? Você também fala “ah, uma última coisa que eu esqueci de falar” 17 vezes na mesma explicação?

Eu gosto MUITO de ensinar, e às vezes acho que faço isso bem. Não à toa, meu jogo favorito é #root, que também é o mais difícil de ensinar bem. Mas a verdade é que eu tenho muito a melhorar ainda. Meu principal problema é demorar muito, e eu também vivo esquecendo pequenos detalhes.

E você?

3 curtidas

Parabéns pelo tópico!

Ficou bem divertido de ler, comecei no hobby a pouco tempo ( menos de um ano) tenho cerca de 30 jogos e durante esse tempo eu ensinei muitas vezes o mesmo jogo para diversas pessoas com idades diferentes.

Minha coleção sempre englobou mais jogos mais simples visto que a esmagadora maioria das vezes eu jogo com meus pais e/ou familiares que nunca viram esses tipos de títulos, infelizmente isso acarretou em saber que terá jogos que nunca poderei ter devido ao seu grau de complexidade, power grid por exemplo, não fico sentido com isso, por que sempre gosto de jogar não importa qual deles pois se tenho na coleção é pq eu fiz aquela pesquisa minuciosa antes de adquirir o mesmo rsrsrs, mas sempre fica com aquele gosto faltando de algum game mais medio para pesado.

Alem de jogar, gosto muito de ensinar, principalmente os mais novos, da pra ver o brilho nos olhos dele se empolgando com aquelas lindas artes do dixit, ou sacaneando um amigo no pega em 6, coisinhas diferente de um jogo da vida, mas que de certa forma, abre um mundo todo para um entretenimento diferente de free fire, ou ate mesmo assistir a globo rsrsrs.

Geralmente eu gosto de ensinar o jogo explicando sobre a sua lore (historia) isso se tiver alguma, falando que esta tendo um tiroteio no velho oeste, e devido a tempestade de areia ninguém sabe quem é quem, então a bala come em todo lugar, ou ate mesmo sendo completamente aleatório tipo taco gato cabra queijo pizza que simplesmente não tem sentido mas é um bom encerrador de noite.

Modestia a parte, falam que sou um bom ensinador, (unico da regiao entao não tem comparação rsrsrs) ate que é dificil ganhar jogos que tenho dezenas de partidas contra jogadores acabaram de jogar, depois de agonizando depois de tantas derrotas ja é hora de trocar de jogo e ensinar novamente.

Acredito que não tenha maneira errada de ensinar um jogo de tabuleiro, geralmente se o jogo for de certa maneira simples e ele mesmo se explicar, tipo bandido que é basicamente " ligar os tuneizinhos" e se fechar tudo ganha o jogo, não tem erro, mas pra mim, o crucial se uma pessoal irá ou não entrar nesse hobby é o explicador, por mais simples que o jogo seja, um ticket to ride pode se tornar uma experiência ruim se as regras forem lembradas e passadas nos 45 do segundo tempo, entao ja digo de uma vez que ira sim demorar um pouco a explicar, entratando não restara nenhuma dúvida dursnte a partida, e se tiver, que mal tem?

O importante é entender tudo, e que ninguém ira te julgar por não ter entendido certa parte da mecânica, ou ate mesmo o explicador ter deixado passar essa, afinal de contas não somos uma enciclopedia de jogos, cometemos erros, mas se ja esta no meio da partida, continua jogando com a regra errada pois essa não irá valer rsrsrs.

Eu sempre acompanho canais como o romir, desregrando e o assim que joga, são meus canais favoritos sendo que o ultimo que me fez começar nesse mundo todo de explicador, ate olho games que nem terei pq gosto desse amontoado de mecânicas que seguindo um padrão forma o que damos o nome para o jogo, maluquice? É bem capaz.

Acho que nesse pouco tempo de menos de um ano, reuni algumas manhas e dicas pra quem esta começa, a primeira delas é ter paciência, se a pessoa quer aprender e não entendeu alguma parte da regra com 3, 4 exemplos, faça 5, 6,7 até que ela entenda! É facil de saber se estão fazendo isso so para zoar, mas 99.99% das vezes é realmente pq não entenderam.

Não demonstre estresse por ja estar explicando a mesma coisa, esquecer é normal, eu mesmo nem lembro como comecei esse texto que ja esta enorme, se um jogador perceber sua má vontade nisso provavelmente fará com que ela não tera mais interesse naquele jogo, ou pior, no hobby que é um nicho muito específico hoje em dia, infelizmente.

Se esqueceu de alguma regra importante, deve reiniciar a partida? Se todos estiverem ja divertindo deixa pra proxima para todos jogarem cettinho e claro não esqueca de dar uma oitra olhadinha para que não aconteça de novo, e se acontecer,peça condolências , é claro.

Para ensinar é preciso aprender, é bem óbvio isso eu sei, mas existi uma diferença entre saber conduzir um carro doq dirigir, um deles você treinou, leu manuais e simulou acontecimentos que nem podem acontecer na sua vida, mas se ocorrer, voce ja está preparado.

Confirmando oque você disse, ensinar é uma arte, não existe uma receita que funcionará em tudo, é adaptar-se sempre e experimentar de tudo.

Essa foi minha experiência de quase um ano, e posso dizer com propriedade que todos nós gostamas da jornada ate agora.

2 curtidas

Bom dia… Ficou bem legal o tópico… Geralmente no meu grupo quem aprende as regras e ensina, sou eu… Mas não porque me deram essa tarefa, mas porque eu gosto e me divirto assim também, além de jogar é claro… E sempre recebo elogios durante e após a explicação…

Obrigado.

1 curtida

Eu gosto muito de ensinar também. Estou sempre adaptando meu jeito de explicar e me atentando a formas mais claras de passar alguns conceitos para as pessoas. Principalmente aqueles que são óbvios para quem já joga.

Coisas simples como:

  • Recursos que são gastos quer dizer que você precisa devolver o recurso pra reserva e não ficar com ele como uma fonte infinita.
  • Ou que a travessia de rios do scythe é referente a cruzar um rio de um tile a outro adjacente e não navegar por ele até o tile que você quiser.

Esse são alguns dos exemplos que me surpreenderam e vi que algumas pessoas podem ter interpretacoes diferentes sobre algumas regras que parecem óbvias, e me trouxe a reflexão de pensar quais são as regras, as vezes não escritas, por trás de certas mecânicas que precisam ser explicadas com carinho.

Além disso, eu costumo tentar montar um storytelling durante a explicação, fazendo algumas adaptações de jogo pra jogo.

  1. Contexto (o que está acontecendo nesse universo? Quem somos?)

  2. Objetivo do jogo (Como ganhamos o jogo e como isso se conecta com o contexto?)

  3. Como o jogo funciona de maneira mais ampla (visão geral sobre como se joga o jogo: etapas dentro do turno, elementos do jogo, como tabuleiros, as áreas do tabuleiro, peças, recursos, dados, etc. E o que as pessoas podem fazer na vez delas, sem se aprofundar tanto nos detalhes - o que ajuda muito aqui é tentar explicar por que certas ações sao possíveis de acordo com o contexto do jogo. Se isso não for óbvio por conta do tema, invente algo que possa fazer sentido. Isso ajuda demais a guardar na memória.)

  4. Detalhes das ações (aqui, eu passo um pouco mais no detalhe como as principais ações e exceções funcionam. Em alguns jogos é possível explicar certas coisas, apenas quando elas acontecem sem interferir tanto na experiência. É claro que tem um impacto negativo em descobrir certas coisas apenas quando elas acontecem, mas para uma primeira jogatina pode ser uma ótima ideia para tirar um pouco da carga cognitiva.

Sempre utilize exemplos e crie situações fictícias entre os jogadores. Ao invés de dar o exemplo dizendo “jogador azul” e “jogador vermelho”, utilize os nomes dos seus amigos. É uma coisa simples, mas geralmente as pessoas gostam de ouvir seus nomes e acabam prestando mais atenção. Use humor e se possível crie exemplos engraçados.)

  1. Ofereça jogar uma rodada teste (costumo oferecer para jogarmos uma rodada teste, assim as pessoas podem ver como tudo funciona. Isso alivia a tensão de fazerem algo “errado”, e então digo que depois, o grupo pode decidir se deseja iniciar novamente ou continuar jogando.

Uma outra coisa que eu acredito que é minha responsabilidade como a pessoa que está explicando o jogo, é garantir que a experiência de quem está jogando um jogo pela primeira vez (no caso de jogadores iniciantes) seja a melhor possível. O que eu quero dizer com isso é que eu preciso abdicar um pouco da minha experiência de jogo para:

  • prestar atenção no que as pessoas estão fazendo para que não cometam erros de regras.
  • criar situações dentro do jogo para que entendam como algumas regras e exceções funcionam. Mesmo que isso prejudique um pouco o meu jogo.
  • assumir a responsabilidade pelos erros das pessoas e entendimentos equivocados. Por vezes, mesmo você explicando algo, as pessoas dirão que você não explicou. Ou que elas entenderam algo diferente. Se desculpe, explique de novo e entenda como ser mais assertivo na próxima vez.
  • não deixá-las ganhar mas tomar cuidado para não humilhá-las (as pessoas já esperam que você jogue melhor por explicar o jogo, e isso pode criar uma resistência ao acharem que não importa o que elas façam nunca irão ganhar. Sabemos que isso não é verdade, mas tente diminuir essa vantagem propositalmente. Na minha experiência, se uma das pessoas ganharem elas tendem a gostar mais do jogo e a querer jogá-lo novamente).

No final o que eu quero é que as pessoas gostem da experiência delas e queiram jogar de novo e depois queiram jogar novos jogos e depois jogos mais complexos até que elas consigam explicar os jogos também hahah.

Abs
:slight_smile:

3 curtidas

Muitos pontos ótimos aí, Lucas! Acho que você assistiu alguns dos mesmos vídeos que eu sobre o assunto, hahahah

Uma das coisas que você falou que eu mais acho bacanas é o uso do tema para reforçar e fixar alguma regra.

Com certeza um dos motivos de eu amar tanto #root é esse. O quanto a temática e a fantasia do jogo reforçam, e às vezes até possibilitam, certas regras — e o quanto essas regras, no sentido oposto, fazem completo sentido dentro da temática.

Por exemplo: em Root, existe uma regra que diz que “um movimento só é possível se a sua facção governar a clareira de origem ou a de destino”. Lendo assim, parece uma regra seca e burocrática, fácil de esquecer. Mas se você explica essa regra dentro do contexto temático, ela faz tanto sentido que se torna até óbvia: se você tem um guerreiro perdido numa cidade dominada pelo inimigo e vai tentar mover esse guerreiro para outra cidade dominada por inimigos, não rola! O pessoal vai te pegar, seja na saída do ponto A ou na chegada ao ponto B. Você tá em minoria! Nesse caso, o movimento só é possível se você estiver ou indo para um local onde você governa, ou partindo de um.

E Root tem pelo menos uma dúzia de regrinhas assim. Ele é um jogo bastante complexo, mas imergir os jogadores na temática faz com que todas as regras sejam bem mais fáceis de aprender e de lembrar.

3 curtidas

Eu gosto muito de ensinar e, principalmente de ver as reações de empolgação, surpresa e satisfação dos jogadores quando os pontos vão se ligando e tudo aquilo na mesa passa a fazer sentido!

Eu chego a ficar ensaiando mentalmente como vou explicar o jogo, o tema, como vou transmitir pras pessoas que vão jogar aquele mesmo sentimento que o jogo despertou em mim!

E, de fato, você observou um detalhe bem engraçado! Eu também falo: “ah, uma última coisa que eu esqueci de falar” com mais frequência do que eu gostaria hahahahaha

3 curtidas

Bom artigo! Demorei para aprender que a 1a ação para iniciar uma explicação de um jogo é: porque esse jogo é divertido! Porque ele é legal! Em seguida o contexto/ tema.
Temos uma oficina de jogos em Inglês todas as sextas feiras num centro de idiomas em Brasília - escola pública. Já errei muito e corrigia numa outra ocasião. Uma colega ajuda na oficina. Usamos jogos em Inglês ou jogos c/ muitos ícones/ símbolos e pouca informação em Português.

Não é que eu goste, mas eu sei explicar jogos de uma forma bem mais clara e rápida que a maioria das pessoas com quem já joguei. Dou uma pincelada no que é importante e vamos direto pro gameplay. It’s a dirty job but someone’s gotta do it.

1 curtida

Ótima publicação como sempre, @fabiobracht ! Fico contente com a qualidade das discussões e reflexões promovidas por aqui.

Gostei de vários pontos abordados neste post.
Ressaltar a lore, o universo e o contexto do jogo é um ponto importante pra transformar um conjunto de mecânicas em um jogo, como apontou o @andersonfelipedeadpo.

Também como já citado, gostar do jogo e ter paciência são qualidades importantes pra que o processo de ensinar aconteça de maneira prazerosa e divertida para todas as partes. O @lucas.ferrari2294 apontou a flexibilidade como essencial, o que eu particularmente concordo, visto que cada um é diferente e vai aprender de uma forma diferente. Criar uma narrativa, um discurso e dar sentido às regras completam o quadro da arte de ensinar e jogar boardgames, na minha opinião.

O que tenho a acrescentar tem a ver com minha experiência como mestre/narrador de RPG de mesa. Gosto bastante de ensinar jogos e sempre tenho um roteiro na cabeça para qualquer sessão. Nele não pode faltar:

  • Conceito/propósito do jogo - o que torna ele diferente, único e especial?
  • História/contexto - aquilo que conecta a mecânica do jogo ao universo em que ele se passa
  • Peças/elementos físicos do jogo - atribuir sentido a cada carta, cor, tile, meeple, etc, de forma a aproximar a pessoa da experiência de jogar
  • Perguntar sempre, solicitar feedback e garantir que todos entenderam as regras, as mecânicas e o que eles estão tentando fazer

Os primeiros pontos falam da imersão e aumenta o engajamento. Aqui você é responsável por dar vida ao jogo. Mas nunca esqueçam que a possibilidade de explorar o jogo e as mecânicas elas mesmas é uma das coisas mais legal dos boardgames.

É um equilíbrio aqui entre explicar muito superficialmente e correr o risco de cometer erros técnicos e explicar demasiadamente e tornar tudo maçante, engessado. O papel do explicador é ser o guia, aquele que apresenta e desperta a curiosidade. Mas o processo de cada jogador com o jogo é único.

Às vezes eu penso que como ensinador, o melhor que posso fazer é sugerir um jogo pra amigos, mesmo que eu não tenha oportunidade de jogar. Conhecer os gostos das pessoas, as personalidades diferentes e os diferentes estilos de jogos e gêneros são coisas que facilitam a diversão e a aprendizagem.

Claro, existem princípios, bons costumes e maus hábitos que podemos estudar e treinar para sermos bons na arte de ensinar jogos.
Mas nunca se esqueça. A regra número 1 é divirta-se!

1 curtida